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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Abraço de morto



Conto de um policia de interior- Abraço de morto

Mais um domingo de sobreaviso, e eu tendo que ficar mais uma vez preso no interior, a 200 km dos braços de minha amada o que fazia cada plantão um martírio. Ainda bem que já estava quase acabando já eram umas 6 horas da tarde do domingo. Eis que o telefone toca. É a policia militar avisando que houve um suicídio no interior. E lá vou eu e um colega verificar o fato. Muita poeira, pedras, sobe e desce morro e chegamos. Um Fundão, e já na porteira o dono bastante nervoso, vai nos apontando um mato no fundo da casa, onde esta o corpo. Se tratava de um velho caboclo, de 60 anos, meio tantã da caxola, que tinha o costume de subir em arvores e pular de galho em galho feito macaco. Minha mente viajou nesta imagem, e já vi o velhinho pulando faceiro entre os galhos, fazendo piruetas e malabarismos. Entrando no mato, havia um córrego de águas límpidas, e uma caverna. Belo lugar. E logo em frente, dois caipiras com a mão na cintura. Perguntamos onde estava o cadáver e nos apontaram para o alto. O taura estava pendurado pelo pescoço em uma arvore a uns 4 metros do chão. Pelo jeito era verdadeiro o hábito arborícola do caboclo. De duas uma, ou realmente quis de suicidar, ou em uma de suas piruetas mirabolantes acabou se atrapalhando e encaixou o pescoço em uma arvore em forma de “furquia” (segundo disse um dos caipiras). Realmente a arvore era uma forquilha perfeita, parecia um imenso botoque, e o caboclo com o pescoço preso nela, e suas pernas dependuradas. E agora com tirar esse índio de lá? Era muito alto, não tinha como puxá-lo, o jeito foi cortar a arvore.  Logo apareceu outro caipira com uma motosserra e pos-se a serrar, e eu segurando o tronco para não despencar, depois o corpo do caboclo. Eis que num soco a arvore cedeu, e o corpo caiu por cima de mim, e o defundo me abraçou, virando o rosto bem de frente para o meu, me fitando nos olhos. Ficamos cara a cara, e me vi abraçado num corpo pútrido, com varejeiras no nariz, tapado de formigas pelo corpo, exalando um insuportavel mau cheiro. Troço ruim vou lhe dizer, abraço de defundo não é nada agradável. Era bem melhor admira-lo lá debaixo. Não senti nojo, mas realmente era uma situação ruim, tão ruim, que o dono da fazenda que estava a observar a função, foi vomitar no córrego. É passou mal o vivente. Realmente o cheiro não era bom. Com ajuda baixamos a arvore e pomos o corpo no chão. Estava ali a mais de dia, com as moscas o rondando. E assim se foi o trapezistas das arvores, não pude vê-lo em ação infelizmente, mas pelo menos recebi um abraço de despedia, abraço de morto, mas mesmo assim um abraço sincero.
FSantana

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