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terça-feira, 1 de março de 2016

Quem é a Natália que matou Nathalia?


“Não conseguimos sentir ódio dela. Estamos orando por esta mulher, pois talvez ela não tenha recebido o amor que a nossa filha 
recebeu em casa. (…) Nós também oramos por esta pessoa, pois não sabemos como foi educada. Se ela teve um lar, pai ou mãe, isto é, uma família estruturada. A gente vê neste momento em todo o mundo que as famílias estão totalmente desestruturadas, sem base. E isto, eu acredito, influencia o mundo de criminalidade e marginalidade.”
Essas palavras não são de um defensor de direitos humanos que “acoberta bandido, porque não é um parente seu que morreu nas mãos de criminosos”, como é comum ouvir das chamadas “pessoas de bem” que, equivocadamente, acreditam que matar bandido pode acabar com a violência. Mas elas são de Maria José Zucatelli, mãe de Nathália Zucatelli, 18 anos, assassinada a sangue frio, dia 22, ao deixar seu colégio, no Setor Marista, durante um assalto.
Maria José está se referindo a Natália Gonçalves de Souza, 19 anos, presa suspeita de ter assassinado sua filha. A reflexão dessa mãe, que sofre uma das maiores dores que um ser humano é capaz de suportar (falo por experiência própria), vai na contramão do senso comum que defende que “bandido bom é bandido morto” e da estratégia do governo na área de segurança pública, de “ser duro” com criminosos.
Por sua imensa dor, seria natural Maria José odiar os assassinos de sua filha, mas ela enxergou além. A sua Nathalia cresceu “rodeada dos avós maternos e paternos, tios e tias”, que ajudaram a ensinar-lhe “o caminho do bem, do amor, da humildade e da paz”, escreveu Maria José em sua página no Facebook.
“Acreditamos em princípios cristãos, estrutura familiar, e uma educação escolar primária de qualidade”, disse. Mais: “E neste momento de aflição nos questionamos: será que nossos irmãos (sim, ela chama de “irmãos” os assassinos de sua filha), que cometeram tamanha atrocidade, tiveram estrutura familiar? Pais para educa-los?”
Ela está nos propondo a perguntar por que uma jovem de apenas 19 anos, já mãe de dois filhos, tornou-se uma assassina. Natália frequentou uma escola, tem família estruturada? O que a fez voltar-se para o crime? Quantos jovens, homens ou mulheres, estão nas ruas das grandes cidades seguindo o mesmo caminho de Natália? Quantas outras Nathalias, ricas ou pobres, negras ou brancas, nos bairros nobres ou nas periferias, continuarão a morrer vítimas dessa incontrolável violência urbana?
São perguntas que ninguém quer fazer, muito menos as autoridades. Buscar a origem do crime, promover ações de longo prazo não dão visibilidade como uma grande obra pública e seus resultados demoraram a aparecer. Não são palpáveis para o marketing eleitoral.
Maria José confiou sua filha a Goiás. Ela voltou para casa, em Ji-Paraná (RO), em um caixão, mas ainda assim sua mãe nos presenteia com um ensinamento e nos obriga a uma profunda reflexão sobre quais as políticas públicas queremos e devemos exigir do poder público. As que cuidam de suas crianças e de seus jovens, dando-lhes proteção, escola e saúde para construção de uma sociedade de paz ou as políticas que ignoram a realidade que produz essa extrema violência e oferece como alternativa apenas a lei de talião? Mais do que desculpas por não ter protegido sua filha, Goiás deve à família Zucatelli um muito obrigado por sua mensagem de amor, solidariedade, compaixão e de esperança.

fonte:https://medium.com/@Cileidealves/quem-%C3%A9-a-nat%C3%A1lia-que-matou-nathalia-44a1997af356#.o4ke56r62

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