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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Contos de um policia de campanha- Partido ao meio

Tarde de uma quarta-feira qualquer, e uma senhorinha que mora ao lado da delegacia pergunta se sabíamos da mulher que havia sido partida ao meio por uma motosserra. Achei estranho, pois, ninguém havia nos avisado do fato. Ligamos para o hospital local e informaram que uma senhora, deu entrada cortada por uma motosserra. Falha do hospital que não avisou da ocorrência, mas tudo bem, fomos ver do que se tratava. Em la chegando fomos ao quarto onde estava a vítima. Visão das piores, a mulher já falecida, com um corte imenso, do ombro ao peito. Fora dilacerada. Imagem difícil de digerir, uma mulher de 50 anos, mãe de família, 3 filhos, ali nua, sem vida, deitada com os pudores amostra, numa maca fria de hospital. Ok. Tudo bem, fingi que aquilo era normal, afinal sou polícia. Impossível achar isso normal. Morrer assim serrado, coisa de filme macabro. Não me senti confortável com a situação, não sei se pela nudez da senhora, ou pela tristeza da cena. Apesar de não ter maiores problemas com casos de morte, é claro que de inicio tonteia, atordoa, choca, mas depois que passa o choque, fico elétrico não sei o porquê. Mas como isso? Perguntei à enfermeira. Respondeu que ela caiu sobre a motosserra. O irmão estava cortando lenha, e ela tropeçou e caiu. Que fatalidade! Jeito fútil de morrer. Deixamos a vítima descansar em paz e fomos atrás do irmão. Simplesmente inconsolável. A família toda na verdade. Entre lagrimas o cidadão contou que estava cortando umas ripas no chão, e as escorava com um tijolo e cortava, para construir a casa da Irmã, e ela em volta varrendo, até que prendeu o chinelo em um buraco e caiu sobre a motosserra ligada. Imaginei a cena. O corpo dela caindo lentamente, o irmão a olhando, sem nada poder fazer, com a motosserra acelerada nas mãos. Aquele sangue todo. O sabre rasgando tecidos e ossos. E pior os filhos estavam próximos, e viram tudo. Que dizer? Fiz meu trabalho, levantei o local, tirei foto, vi muito sangue no chão, nas paredes, o chinelo da mulher ainda lá. O marido chorando, as crianças. Enfim... Deixou o marido, três filhos, e o irmão traumatizados. Coitado, ser assassino assim, sem pretender sê-lo. Que culpa. Que drama. Fiz o inquérito, ouvi todo mundo. E após tudo passado partido ao meio fiquei eu.
FSantanna

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